A
aprovação do casamento gay no país fez aumentar o público que busca
serviços de lista de presente e organização de festas. Na loja de
artigos de utilidade doméstica Arpège, por exemplo, aumentou em 40% o
volume de clientes interessados em criar uma lista de presentes.
O crescimento foi registrado
principalmente na loja do shopping Frei Caneca, em São Paulo (SP), muito
frequentado pelo público gay. Além do shopping, a rede, que existe há
20 anos, possui lojas nos bairros de Moema, Paraíso, Perdizes e
Santana, além de uma loja online.
“Os gays estão se programando para
oficializar sua união. Sentimos que mais casais estão nos procurando
para perguntar sobre listas de casamento porque estão interessados em
montar uma casa para morar junto “, diz Ester Fraga, 54, dona da Arpége.
Outro empresário que está investindo na
prestação de serviços para o público gay é Rossano Gastaldo, 30, dono da
That’s Amore, de Porto Alegre (RS). A empresa foi criada em março e só
organiza casamentos gays. Até agora, ele realizou cinco cerimônias.
“Com a aprovação da união de casais homossexuais, o número de clientes deve crescer bastante”, afirma.
Segundo Gastaldo, os orçamentos de casamentos gays são, em média, 30% mais caros do que as cerimônias dos noivos heterossexuais.
Para Marcelo Sinelli, consultor do
Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa), a
aprovação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo abre
oportunidades de negócio.
“Existe uma demanda reprimida. Com essa
novidade, muitas pessoas devem correr para realizar o sonho romântico do
casamento. Isso deve gerar um ‘boom’ no mercado de casamentos, mas a
procura deve estabilizar daqui algum tempo”, declara.
De acordo com Sinelli, o público gay
também traz oportunidades de negócio interessantes para outros
segmentos, além do casamento, como turismo e gastronomia.
“Eles têm nível educacional elevado, o
que lhes proporciona uma renda maior. Por não terem filhos, eles têm
mais renda disponível para gastar com outras coisas.”
Além de listas de casamento, a Arpège
também faz lista de “open house”, para equipar a casa de quem vai morar
sozinho. Fraga afirma que, antes, muitos casais gays escolhiam a lista
de “open house” quando iam morar juntos, provavelmente por vergonha.
“Agora, esses casais não têm mais a
preocupação de se esconder e a maioria das pessoas não se incomoda mais,
é algo normal”, diz.
Lista de presentes gay tem mais itens com design
Fraga diz que há diferenças entre a
lista de casamento de noivos heterossexuais e gays. Segundo a
empresária, na lista de um casal hétero, geralmente é a noiva que
escolhe tudo, sem participação do noivo, e os itens são mais
tradicionais.
“Os casais gays gostam de coisas
práticas, com design diferenciado e coloridas. São itens para receber de
quatro a seis pessoas, principalmente os amigos, e não para grandes
famílias.”
Público é exigente e trabalho exige discrição
A That’s Amore tem como público-alvo as
classes A e B. Apesar de a empresa ter sede em Porto Alegre (RS),
Gastaldo diz que mapeou fornecedores em outras cidades para poder
atender também clientes de outras regiões.
Ele diz que, para atuar neste mercado, é
fundamental ter discrição, pois ainda há muitos gays que preferem não
se expor. Por isso, em todos os seus contratos há uma cláusula de
confidencialidade que impede a divulgação de fotos e vídeos, por
exemplo.
“O público gay é mais exigente, ele quer
qualidade, exclusividade e itens personalizados, por isso invisto no
treinamento da minha equipe e dos meus fornecedores”, afirma.
Restringir mercado requer análise criteriosa, diz especialista
Apesar de a especialização em
determinados nichos trazer vantagens para o negócio, Cláudio Gonçalves,
professor do MBA de gestão de risco da Trevisan Escola de Negócios, diz
que é importante avaliar se haverá volume suficiente de vendas para a
empresa se manter.
“Se a empresa ficar focada apenas em um
público muito restrito, ela pode perder outras oportunidades de negócio e
ficar no vermelho. Quanto mais opções de público ela tiver, maiores são
as possibilidades de retorno. Além disso, a empresa tem de trabalhar
sempre com projeções e planejamento financeiro.”
Segundo o consultor do Sebrae-SP, apesar
de haver boas oportunidades de negócio no segmento, é necessário se
preparar para lidar com este público.
“Apesar de a sociedade estar mudando,
muita gente ainda tem preconceito. O empreendedor tem de ter cuidado ao
escolher seus vendedores e treiná-los para tratar este consumidor com
respeito e discrição.”
do Tribuna Hoje
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