Há pouco mais de uma semana, o
publicitário Gabriel Colombo, de 29 anos, navegava pelo Facebook quando
se deparou com a notícia do assassinato de um homem gay. Mas em vez de
se tratar de um desconhecido como de costume, a reportagem trazia
estampada a foto de um amigo seu, o analista de eventos Caio Locci.
O susto deu lugar ao alívio quando Colombo soube que se
tratava de uma montagem feita pelo próprio Locci para chamar a atenção
para crimes motivados por homofobia. Juntos, os dois decidiram
transformar a ideia embutida no post em uma campanha.
"Todos os dias vejo algum caso de homofobia. Eu mesmo já
fui agredido em uma briga de trânsito. Fui xingado de 'viadinho' e
'bicha' e acabei desacordado no chão", explica Colombo. "Sempre quis
fazer algo a respeito desse problema".
Na página #eSEfosseEu, qualquer um pode adaptar uma
notícia de um crime homofóbico para colocar uma foto de si mesmo e
compartilhá-la em seu perfil na rede social. "Ver alguém conhecido como
vítima de um crime assim gera impacto: acaba com o distanciamento com
que normalmente lidamos com uma notícia como esta, ao 'mostrar' que a
intolerância chegou próximo de quem a lê", diz Colombo.
Desde sua criação, a página conseguiu 1,5 mil seguidores
e vem recebendo contribuições, como a da funcionária pública Leydi
Martins, que é heterossexual. No post, sua foto aparece junto com a
manchete: "Corpo de jovem lésbica foi encontrado em lixeira".
"Choca
mais o fato de ler 'jovem lésbica' do que 'encontrada na lixeira'? Não
devia...", escreve Martins. "Não sou lésbica, mas poderia ser. Poderia
ter sido eu, morta, violentada sexualmente, mutilada, vítima da
brutalidade de algum preconceituoso intolerante. Homofobia mata. Seu
preconceito mata. Liberte-se".
O estudante Mateus Bernardes também aderiu à campanha.
"O seu medo é o meu medo, é o medo da minha família, da família de
muitos. É o medo daquela criança/adolescente que está se descobrindo.
Até quando serei apenas 'mais um'?", disse ele no post.
Projeto de lei
Colombo esclarece que o objetivo final da campanha é a aprovação do PLC 122, projeto de lei que criminaliza a homofobia. Segundo uma pesquisa feita pelo Grupo Gay da Bahia, entidade que é referência nacional na causa da igualdade de direitos, 312 gays, lésbicas ou travestis foram mortos em 2013. O índice aumentou 14,7% nos últimos quatro anos. Destes crimes, 99% foram motivados por homofobia, segundo a ONG.
O Brasil ainda concentra quase metade do total de
homicídios de transexuais no mundo, segundo a organização Transgender
Europe. Mesmo com estes índices, a homofobia ainda não figura no rol de
crimes motivados por preconceito.
Um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional
desde 2006 aplica a crimes homofóbicos punição semelhante à aplicada
àqueles causados por preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
nacionalidade. Em dezembro do ano passado, o projeto foi debatido na
Comissão de Direitos Humanos do Senado, mas a votação não ocorreu por um
pedido de vista de um de seus membros. O projeto é visto com
resistência por associações religiosas, que defendem o direito de dizer
que a homossexualidade é pecado sem que isso seja considerado homofobia.

Foto: Arquivo pessoal
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