Pedro deixou de andar em Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho, no período da noite. Fotos: Anaclarice Almeida/DP/D.A.Press
Os assassinatos de sete homossexuais num período de pouco mais de um ano registrados no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR), deixaram a população LGBT da cidade em estado de alerta. Segundo os registros da Delegacia Seccional, os crimes aconteceram entre os dias 21 de maio do ano passado e 17 de junho deste ano. Dessas sete mortes, quatro foram entre as praias de Gaibu, Calhetas e Enseadas dos Corais, onde há grande fluxo de visitantes nos finais de semana. Apesar do medo entre os gays que moram na localidade em relação às mortes, a Polícia Civil afirma que, por enquanto, nenhuma das investigações desses homicídios teve motivação homofóbica.
A família do auxiliar de cozinha Alax Silva da Paz, 22 anos, conhecido como Quinho, ainda chora a perda do jovem que foi encontrado morto na madrugada do último dia 17 de junho na beira mar da Praia de Gaibu. “Meu filho era uma pessoa muito querida. Todo mundo aqui em Gaibu gostava dele. Isso que fizeram foi uma maldade sem fim e eu entreguei o caso nas mãos de Deus”, revelou a dona de casa Iracilda Marilda da Silva, 50, mostrando o último presente que ganhou do filho quatro dias antes dele ser assassinado. “Quinho tinha muitas amizades e costumava passar dias fora de casa. A gente não sabe dizer o que aconteceu, mas fizeram muita ruindade para matá-lo. Ele estava com o maxilar e um braço quebrados e a cabeça enterrada na areia. A polícia precisa descobrir quem fez isso. Basta apenas um pouco de força de vontade”, ressaltou uma vizinha que preferiu não ter o nome publicado.
Alax foi encontrado morto no último dia 17 de junho
O funcionário público Adriano, 29, disse temer pela própria vida e pela dos amigos gays. “Apenas aqui na área de Gaibu houve quatro mortes e todas na beira da praia. Nós estamos com medo de sair de casa à noite. Esses lugares onde essas quatro pessoas foram assassinadas são pontos conhecidos de curtição à noite. No entanto, não apenas os gays que frequentam essas áreas”, explicou Adriano. De acordo com o funcionário público, casais heterossexuais e pessoas que consomem drogas também frequentam esses espaços. O auxiliar administrativo Pedro, 38, é uma das pessoas que deixou andar na beira-mar no horário da noite. “Depois que começaram a acontecer esses crimes aqui na praia, muita gente ficou com medo e deixou de vir pra cá. Eu mesmo não ando mais por aqui à noite. Você só me encontrou agora porque está de dia e estou esperando um amigo”, confessou Pedro.
Adriano teme pela vida dele e de seus amigos gays
A Secretaria de Defesa Social (SDS) começará a notificar os crimes de homofobia ocorridos em Pernambuco. A iniciativa terá o objetivo de mostrar a realidade da violência contra as lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, a chamada população LGBT. De acordo com números do Centro de Vulnerabilidade Social LGBT, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, apenas neste ano, 22 homossexuais foram assassinados no estado. Desse total, sete aconteceram no município do Cabo de Santo Agostinho. No ano de 2012, os homicídios de gays foram 35. Os dados, no entanto, são considerados subnotificados pois são coletados apenas das matérias veiculadas na imprensa. Um problema que tende a ser revolvido com a contagem oficial.
A formulação de estatísticas dos crimes contra homossexuas foi sugerida pelo deputado estudual licenciado Isaltino Nascimento (PT), em 2005, através do projeto de lei de núnero 12.876. O governador Eduardo Campos resolveu regulamentar a lei no final do mês passado por meio de um decreto publicado no Diário Oficial do Estado. Segundo o titular da pasta de Defesa Social, Wilson Damázio, a Gerência de Análise Criminal Estatísticas será a responsável pela contagem dos crimes que conste qualquer agressão contra a população LGBT.
A SDS assinou um termo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Conselho Nacional de Justiça e o Ministério da Justiça para capacitar policiais para lidar com essas ocorrências. Apesar do avanço, ainda não há previsão de instalação de delegacias especializadas no estado. Outra novidade é que, em janeiro de 2014, o Ministério da Saúde tornará obrigatório o registro de casos de violência por homofobia atendidos na rede pública de saúde.
Sete homossexuais morreram na beira-mar de Gaibu entre maio de 2012 e junho de 2013
172 crimes de homicídios registrados de junho de 2012 até maio de 2013
7 homossexuais morreram entre os meses de maio de 2012 a junho de 2013
23 assassinatos foram registrados no mês de junho deste ano
21 crimes de assassinatos foram notificados em junho de 2012
Homofobia em Pernambuco
115 denúncias referentes a 228 tipos de violações contra a população LGBT foram registradas em 2012
Em relação ao ano de 2011, houve um aumento de 121%, quando foram notificadas 52 denúncias
35 homicídios contra a população LGBT foram registrados no estado em 2012
22 homicídios já foram registrados até o mês de junho deste ano em Pernambuco
Telefones úteis
Disque 100, da SDH
Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres
Centro de Vulnerabilidade Social LGBT da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos: 3183.3182
Fontes: Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil (ano de 2012), da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal e Centro de Vulnerabilidade Social LGBT do governo do estado
Publicado em Tudo
Com a tag cabo, crime, gaibu, gay, homofobia, homossexuais, homossexual, medo, pernambuco, praia, violência
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