Em audiência na Comissão de Direitos Humanos e Legislação
Participativa (CDH) parlamentares e integrantes do movimento LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) defenderam a previsão na
Constituição do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O direito
já é garantido por recente resolução do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) que obriga os cartórios a formalizarem casamentos entre
homossexuais.
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) argumentou que o casamento
igualitário representa uma pauta positiva e afirmativa de direitos que
merece o posto de “locomotiva da cidadania LGBT”. A seu ver, o movimento
gay precisar enfrentar a homofobia institucional, tanto quanto a
discriminação e a violência. Ele disse considerar inaceitável a exclusão
jurídica do casamento igualitário.
“É preciso alterar o texto constitucional e da lei para que as uniões
sejam garantidas e sejamos reconhecidos como cidadãos pelo Estado. Aí
estaremos enfrentando a discriminação jurídica, fortalecendo a equidade
de direitos e também o objetivo da República da promoção do bem de todos
sem discriminação”, disse o deputado.
A audiência serviu ainda para a mobilização de militantes da
comunidade LGBT em apoio à campanha pelo casamento igualitário. O
próprio Jean Wyllys já elaborou uma proposta de emenda constitucional
destinada a alterar dispositivo da Carta Magna que trata do casamento.
Ao fim, os participantes se dirigiram à Câmara dos Deputados para ajudar
na coleta de assinaturas de deputados. Jean Wyllys disse que já reuniu
mais de 80 assinaturas, mas precisa chegar a 171, o mínimo para o
registro da PEC naquela Casa.
Pela proposta, a referência “o homem e a mulher”, constante do art.
226, § 3º, daria lugar a “pessoas”. Em oposição à mudança, um grupo de
jovens evangélicos ocupou o fundo da sala da CDH e de lá exibiu cartazes
com o lema “Pela família tradicional”. Houve aplausos à resposta dada
por um jovem militante gay, por meio de cartaz improvisado com a frase
“Por todas as famílias”.
Segurança jurídica
A busca por segurança jurídica foi outro argumento apresentado pelos
defensores do casamento igualitário. Assim como Jean Wyllys, o advogado
Paulo Vecchiatti, autor do livro Manual da homoafetividade,
destacou como importante conquista o casamento gay amparado em decisões
do Judiciário. Ele manifestou preocupação, no entanto, com mudanças de
entendimento no Judiciário.
“Se o Supremo for invadido por conservadores, não se pode desprezar o
risco de que possa mudar de ideia e revogar as disposições atuais. Por
isso, alterar a Constituição e o Código Civil é importantíssimo”,
observou o advogado.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 14 de maio, adotou resolução
para obrigar os cartórios a formalizar casamentos homoafetivos. O órgão
levou em conta decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável à
possibilidade de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, com base
numa ação específica, adotando no argumento da isonomia de direitos,
levando ainda em conta que a Constituição não venda essa possibilidade,
havendo apenas omissão. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF)
reconheceu há dois anos a união estável homoafetiva.
Risco
Gustavo Carvalho Bernardes, da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, observou que a estratégia de debater a PEC e
mudanças no Código Civil não estava totalmente isenta de riscos. Ele
ponderou que, por interferência de parlamentares conservadores, as
matérias poderiam ser emendadas com medidas para tornar assimétrico o
casamento gay em relação ao casamento heterossexual.
Com base nisso, Bernardes questionou se não seria melhor continuar
nesse momento com as conquistas obtidas por meio do Judiciário e
investir maior esforço na aprovação do projeto que criminaliza a
homofobia (PLC 122/2009). A proposta aguarda relatório do senador Paulo
Paim (PT-RS) para ser votado na CDH. Jean Wyllys e Vecchiatti, porém,
disseram que as duas pautas são complementares e devem caminhar juntas.
Obscurantismo
A audiência foi proposta pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e
Lídice da Mata (PSB-BA). Lídice aproveitou para criticar a aprovação do
chamado projeto da “cura gay”, ocorrido nesta terça, na CDH da Câmara
dos Deputados. A seu ver, os deputados da CDH, hoje esvaziada dos
integrantes que contestam a eleição do pastor Marcos Feliciano (PR-SP)
como presidente, optam pelo obscurantismo num século marcado pela
afirmação dos direitos das minorias.
Em reforço, o senador João Capiberibe, vice da CDH, declarou que quem
está precisando de cura “são algumas cabeças deformadas do nosso
Parlamento”. Capiberibe dividiu a coordenação da audiência com a
presidente da CDH, senadora Ana Rita (PT-ES), e o senador Eduardo
Suplicy (PT-SP).
Também participaram os deputados Érica Kokay (PT-DF) e Chico Alencar
(PSOL-RJ), além de Letícia Perez e Kátia Ozório, casal que obteve, por
meio de ação iniciada na Justiça do Rio Grande do Sul, a primeira
sentença do STJ favorável ao casamento civil entre pessoas do mesmo
sexo.
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